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Painel III
Prof. Odilon Francisco Pavón Duarte
Possui graduação (1993) e mestrado (1998) em Engenharia Elétrica (Energia e Meio Ambiente) pela PUCRS. Atualmente é Professor da Graduação e do Pós-graduação da Escola Politécnica da PUCRS e Coordenador dos Cursos de Graduação das Engenharias de Energias Renováveis e Elétrica e do Curso de Pós-Graduação em Energias Renováveis. _______________________________________________________________ Tem experiência na área de planejamento e desenvolvimento energético, atuando principalmente em gestão e uso sustentável da energia e aproveitamento de fontes renováveis de energia.
CBT – Descarbonização é principal tema do PAINEL III
A relação entre a pesquisa e a evolução, ainda lenta, nas cidades, na descarbonização do transporte é tema do Painel 3: Mobilidade e Energia Descarbonizadas, que será apresentado na tarde de terça-feira (09/05), durante o 11º Seminário Cidade Bem Tratada, que acontece no auditório do Ministério Público em Porto Alegre, com transmissão ao vivo pelo link https://bit.ly/3NuF4k7. A mediação desse debate, que inicia às 14h, será do vice-governador do RS, Gabriel Souza.
Entre os painelistas está o professor Odilon Francisco Duarte, professor da Graduação e da Pós-graduação da Escola Politécnica da PUC-RS e coordenador dos Cursos de Graduação das Engenharias de Energias Renováveis e Elétrica e do Curso de Pós-Graduação em Energias Renováveis. Professor Odilon tem experiência na área de planejamento e desenvolvimento energético, atuando principalmente em gestão e uso sustentável da energia e aproveitamento de fontes renováveis de energia.
O Cidade Bem Tratada (CBT) conversou com o professor Odilon Duarte sobre a descarbonização do transporte coletivo, sobre fontes de energia – como a da agropecuária, e sobre as contribuições da academia na pesquisa e busca por fontes renováveis de energia.
Confira:
CBT – Nós já temos tecnologias suficientes para descarbonizar, tanto a mobilidade, como as frotas de ônibus e os veículos, como as energias de forma geral?
Professor Odilon Duarte: Não necessariamente. É verdade que o Brasil tem um grande potencial para uma maior implementação de veículos elétricos por conta de sua matriz elétrica, que tem aproximadamente 80% dela composta por fontes de energia renováveis, mas ainda existem fatores que impedem que ocorra a descarbonização dos meios de transporte no nosso país, como o alto custo dos veículos elétricos e a falta de infraestrutura para tais. Contudo, uma área da mobilidade que se mostra igualmente promissora (talvez mais), principalmente no Brasil, se tratando de descarbonização, é a de veículos híbridos/flex, equipados com motores elétricos e à combustão, que podem rodar com gasolina e etanol. Segundo cálculos da União da Indústria da Cana (Unica), considerando o ciclo completo, um veículo alimentado exclusivamente com a gasolina brasileira, com 27% de etanol anidro, emite 131g de CO2/km, contra apenas 37g CO2/km abastecido integralmente com o etanol hidratado de cana. Esse valor é menor do que um modelo elétrico na Europa, que alimentado pela matriz energética atual da região emite 54g CO2/km – e emitiria 35g CO2/km se usasse a energia mais limpa gerada no Brasil. O híbrido flex, como o Toyota Corolla, já produzido no país desde 2019, apresenta a melhor relação de eficiência: abastecido só com etanol tem emissão de 29g CO2/km.
CBT – Além de muito vento e sol, o Brasil tem muita matéria orgânica proveniente da agropecuária, que poderia se transformar em energia, e isso é muito pouco aproveitado. Ou seja, o Brasil já teria condições suficientes para ser independente em energia totalmente renovável, dispensando as grandes hidrelétricas, ou seja, temos a energia eólica, solar e biometano. Por que isso não avança? Problema de subsídio, problema cultural?
Professor Odilon Duarte: Na verdade, ainda não é possível abandonar as fontes hidrelétricas pois elas representam quase 60% da matriz elétrica do Brasil. Contudo, a bioenergia sem dúvida tem um grande potencial no nosso país, devido à grande quantidade de recursos renováveis oriundos de matéria orgânica, tanto animal como vegetal. A biomassa tem como foco a produção de energia elétrica para autoconsumo, mas a exportação do excedente produzido é dificultada pela ausência de condições que facilitem a conexão dessas usinas à rede para comercializar energia. Um grande problema para uma maior exploração desse recurso é a falta de estrutura na rede de transmissão, o que deixa as usinas já existentes isoladas e inviabiliza a construção de outras. Por exemplo, as usinas de açúcar e etanol estão dispersas geograficamente, sendo por vezes distantes de subestações capazes de escoar a energia produzida. Com isto, o aceso à rede acaba constituindo-se em uma barreira para a incorporação de novos empreendimentos de geração movidos à biomassa.
CBT – Até que ponto vamos conseguir descarbonizar ao menos a frota pública das regiões metropolitanas do país? Isso seria um grande desafio. Temos tecnologia para isso?
Professor Odilon Duarte: Com o aumento dos Gases de Efeito Estufa (GEE), a mobilidade elétrica virou um plano a ser tratado com muita importância nas grandes capitais, pois o desenvolvimento de frota pública de veículos elétricos pesados pode ser uma alternativa. Também é importante ressaltar que o Brasil tem uma matriz energética renovável, mas não totalmente limpa e, que para ter uma ampla “descarbonização mobilística” em escala nacional, é necessário diversificar a matriz energética brasileira, para que não haja mais emissão de GEE na geração da eletricidade.
Lembrando que, quando falamos da mobilidade elétrica de veículos, precisamos de uma reestruturação da malha rodoviária e da rede elétrica, para suportar a nova frota de Veículos Elétricos (VEs), pois atualmente nas cidades, os veículos leves tendem aumentar devido a estruturas precárias dos ônibus e do valor alto da tarifa, o que leva a população a optar por outros tipos de transporte.
CBT – Qual a experiência das universidades, que pesquisam e apresentam tantas soluções, mas que na prática se vê uma evolução muito pequena, principalmente em transportes descarbonizado no país? O que tem de novidades nessa área?
Professor Odilon Duarte: Existem programas de incentivo ao uso de veículos elétricos, reduzindo a emissão de carbono por combustíveis fósseis dos veículos, como por exemplo a Rota Sul, que é uma eletrovia construída por parceria das empresas Zletric, Nissan, Movida e a rede de postos SIM, que ligam os estados do Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul, tendo em média 200 km entre cada posto de reabastecimento para veículos elétricos em todo o itinerário. O percurso possui postos da rede SIM em estações de carga rápida (fast charger DC) com potência de 60 kW com conectores CSS ou CHAdeMO. Sendo a tarifa pelo uso do eletroposto é de R$ 1,99 / kWh. Entretanto, a origem dessa energia precisa ser renovável, do contrário ainda terá emissões de carbono consideráveis.
Há também estudos de uso de hidrogênio para geração e armazenamento de energia em baterias, ofertando a tecnologias que utilizam eletricidade uma fonte com emissão zero de carbono na transformação de energia. Sendo este chamado de Hidrogênio Verde, oriundo das reações de eletrólise da água, gerando gás hidrogênio e oxigênio, que não são poluentes, ao meio ambiente. Estas baterias de hidrogênio podem ser carregadas com energia solar ou eólica, que também não são poluentes em sua geração. Em julho de 2022, o governo deu início a estudos da capacidade de geração de Hidrogênio Verde no Rio Grande do Sul. Sendo a matriz energética elétrica do estado 82% proveniente de fontes renováveis e com uma extensa costa marítima, a geração é favorecida, fatos estes promissores, potencialmente trazendo um mercado novo de geração para o Estado.
Existem estudos para melhorias de painéis solares, visando aumentar a eficiência na geração de energia pela incidência dos raios solares. No Tecnopuc da PUCRS existe o Núcleo de Tecnologia em Energia Solar (NT-Solar) realizando tais pesquisas. O laboratório existente desde 1997 e foi o único centro de P&D na América Latina projetado para desenvolver e caracterizar células solares e módulos fotovoltaicos em escala piloto, sendo criador da célula solar com maior eficiência desenvolvida no Brasil e a célula solar bifacial com maior eficiência no mundo.
Outros estudos são desenvolvidos no Instituto do Petróleo e dos Recursos Naturais (IPR) da PUCRS, como os projetos de desenvolvimento de tecnologias como a DACCS (processo de captura e armazenamento de carbono direto do ar), Plataforma GIS (CCUS – Captura, Utilização e Armazenamento de CO2), Hidrogênio Verde e Biossurfactantes. Essas tecnologias desenvolvidas podem significar uma rápida descarbonização do Planeta, junto com outros investimentos e eficiência no uso dos recursos do planeta.
Existe na PUCRS também o Grupo de Desenvolvimento de Materiais e Tecnologias Limpas, orientado pela professora Sandra Einloft, que desenvolve estudos das reações de carbonatação de resíduos e mineral, visando auxiliar na mitigação dos impactos ambientais causados pelo C; a captura e conversão de CO2 usando líquidos iônicos, polímeros e sólidos nanoestruturados, que é a principal atuação do grupo. Os trabalhos desenvolvidos pelo grupo têm permitido uma integração entre a Universidade e as Indústrias Regionais e Nacionais e com outras universidades no Brasil e Exterior.
CBT – O que falta para avançarmos nessa descarbonização?
Professor Odilon Duarte: É um conjunto de fatores para serem trabalhados. Com o aumento da implementação de políticas de incentivo e investimentos em renováveis, sejam de geração eólica, solar, hidrogênio verde, biomassa, biogás, combustíveis sintéticos (e-combustíveis) entre outros, o Brasil se encaminha em direção da emissão zero de carbono. Há uma lacuna com bases tecnológicas, regulamentares, concessionais entre linhas de pesquisas, culturais e educacionais na sociedade.
As pessoas precisam conhecer e permanecerem atualizadas sobre o tema e as pesquisas que possibilitam a minimização dessa geração de gases poluentes necessitam ser vencidas para atingir os objetivos propostos, que são chegar ao ano de 2025 emitindo 1.614 Mt de CO2 equivalente e, em 2030 com 1.281 Mt CO2 equivalente, conforme o compromisso em relação à Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), adaptando essa política ao Acordo de Paris assinado em 2015. No PNMC, é estabelecido que o Brasil irá neutralizar 100% das suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) até o ano de 2050.